Probabilidades
Por acaso foi achado uma bolsa de óculos, de couro vermelha?
Sim.
Achamos e guardamos. Irei buscá-la, um momento.
No micro intervalo, entre a pergunta e o tempo de espera pela resposta encontraria motivos para pensar que tanto poderia ser positiva como negativa.
Mas o fato de ter sido positiva (pois a pergunta foi feita apenas partindo de uma dúvida, porque a memória não daria conta do dia da ação na qual a bolsa de óculos vermelha desapareceu, nem mesmo o espaço no qual ela poderia ter sido deixada) teria me dado grande prazer, pois iria rever um objeto especial, tido já como perdido.
Então a pergunta foi feita tendo por base apenas a hipótese de que aquele lugar seria um dos possíveis. E, partindo dessa premissa a pergunta foi formulada, mesmo sabendo que seria pouco provável o objeto ser reencontrado. Dependeria de muitos fatores.
O fato de ter tido uma resposta positiva para a pergunta, me fez pensar que tanto acreditamos poder crer como duvidamos poder crer.
Durante trinta dias um ser humano teria guardado algo insignificante de outro ser humano, desconhecido. Acreditando apenas que ele, algum dia, poderia voltar ali e perguntar-lhe: Por gentileza, por acaso vocês acharam uma bolsa de óculos, de couro vermelha? E então ele responderia:
Sim, achamos e guardamos. Irei buscá-la, um momento.
Célia Cotrim
fevereiro de 2015
Foto: Cristiane Geraldelli