O espelho oval
Minha pequena vida borbulhante de pensamentos.
O espelho não me diz quem sou, me esforço ao olhar para ele, dentro dele tento ver o que existe em mim, mas muitas vezes meus olhos vagueiam nos limite deste objeto de reflexão, meu espelho oval.
Incansáveis vezes não quero ver o que vejo ali refletido no oval do espelho. Saio do limite da reflexão do espelho e somente volto a olhar para ele quando me sinto mais segura para tentar ver de novo, mais profundamente o que antes não havia entendido.
Fico ali parada diante dele, perdida na figura que é minha, querendo me ver em mim mesma e me sentir bem com aquilo que vejo. Assim, de corpo e espírito. Faço sempre isso durante o tempo de vida que vivo na esperança de um dia encontrar em mim, na reflexão diante do espelho, o que acho que vou sempre procurar.
Vejo meus limites corporais no espaço limitado do espelho ovalado, o limite que faz de mim um indivíduo no mundo, mas a tridimensionalidade me impede de ver algo que espero um dia ter certeza que está em mim, embora não a veja refletida no espelho oval.
Assim, sempre volto a olhar no espelho oval da parede de meu quarto, a procurar algo, rodeando o ovalado limite do espelho com meus olhos para ver o que está lá dentro. Talvez nele eu possa entender que a reflexão através do espelho fica depositada em mim e refletida ao mundo pelos meus olhos, através daquilo que não consigo ver e que talvez eu não precise ver dentro do espelho oval, porque está em mim refletida.
Célia Cotrim
Junho de 2014
Fotos: Cristiane Geraldelli